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CRÍTICA - “A Cabana” adapta bestseller com apelo religioso e melodramático


O problema de um filme com temática religiosa não é seu material em si, mas a abordagem. O Evangelho Segundo São Mateus, de Pier Paolo Pasolini, e O Diário de um Padre, de Robert Bresson, são dois bons exemplos do gênero. Eles funcionam porque não são didáticos, não tomam nada como verdade universal, não pregam, mas questionam. Assim, estão em um extremo do espectro do gênero; no outro, está A Cabana, de Stuart Hazeldine, baseado em romance homônimo do canadense William P. Young.

Não que o filme seja ruim no que ele se propõe a fazer – o problema é o resultado. O personagem central é um pai incapaz de lidar com o assassinato de sua filha pequena. Então a Santíssima Trindade em pessoa se materializa numa cabana no meio de uma floresta para o ajudar na missão de perdoar o assassino e seguir em frente.

O filme começa com uma família de comercial de margarina liderada por Mack (Sam Worthington) e Nan (Radha Mitchell). Na companhia dos três filhos, eles vão ao culto. A mulher é empenhada, presta atenção, canta, enquanto o marido fica apenas com um olhar cético. É essa ovelha desgarrada que Deus, em pessoa e interpretado por Octavia Spencer, virá para tentar reconquistar. Para essa missão, Ele conta com ajuda de Jesus (Avraham Aviv Alush) e o Sarayu (Sumire Matsubara), que é, na verdade, o Divino Espírito Santo.

Tempos depois da morte da menina, que foi raptada enquanto Mack socorria o outro filho que se afogava, o protagonista recebe uma mensagem na caixa de correio para ir a uma cabana, onde o vestido dela foi encontrado rasgado e sujo – do corpo nunca se soube. A nota está assinada apenas por “Papai”, e essa é a forma com a qual Nan se refere a Deus.

A cabana é um lugar triste, abandonado e coberto de neve. Quando Mack está indo embora, um sujeito bem descolado aparece, dizendo para segui-lo. Do outro lado, está uma outra cabana idílica, repleta de flores coloridas e beleza. O cara é Jesus, com quem Mack travará uma espécie de bromance abençoado (juntos andarão sobre as águas do lago para se divertirem).

Depois das apresentações de praxe, com Mack ainda um pouco incrédulo, começam verdadeiras sessões de terapia, promovidas por Papai (Octavia Spencer), nas quais o protagonista acessa o seu passado, os acontecimentos, suas dúvidas sobre a fé e toda a pregação religiosa que o filme se permite. A bem da verdade, a personagem de Octavia tem um certo humor, mas tudo sacro, para não ofender a sensibilidade de ninguém.

Há confrontos – Mack pergunta algumas vezes porque Papai deixou que sua filha fosse assassinada. A brasileira Alice Braga atua no papel da Sabedoria, que ajudará Mack num dos vários clímax do filme. Com uma marca de mais de duas horas, A Cabana é mais longo que uma missa e sua liturgia, um tanto repetitiva, rondando sempre os mesmos pontos de perdão, aceitação do destino e um certo conformismo.

Worthington, que nunca se reencontrou depois de Avatar, é esforçado, mas seu papel é ingrato. A bem da verdade, seu personagem – assim como todos os outros – é desprovido de nuances, transformando esse psicodrama em, além de tedioso, num filme excessivamente previsível e um insistente manual sobre como manter a fé em Deus diante das adversidades.

De Alysson Oliveira, do Cineweb

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