Crítica | Feito na América é uma aventura recheada de ação e sátira, incrivelmente baseada em fatos reais
Por Redação |
O diretor Doug Liman e o astro Tom Cruise unem mais uma vez suas energias – como fizeram em No Limite do Amanhã (2014) – para realizar uma aventura recheada de ação e sátira, incrivelmente baseada em fatos reais, Feito na América.
Com poucas incursões na comédia em sua longa e bem-sucedida carreira – como a já distante no tempo Jerry Maguire – A Grande Virada (96) - Cruise entra de cabeça no papel de Barry Seal, um anti-heroi que depende totalmente do carisma do ator para tornar-se minimamente simpático. Afinal, Seal é um personagem para lá de ambíguo. Piloto de carreira, é cooptado pelo agente da CIA Monty Schafer (Domhnall Gleeson) para conduzir pequenos aviões encarregados de fotografar campos de produção e pouso clandestinos de grandes narcotraficantes pela América Latina, além de entregar altas somas em dinheiro a governantes supostamente engajados na luta contra o comunismo, caso do notório panamenho Manuel Noriega (Alberto Ospino).
O piloto realiza a missão com grande habilidade até ser pego por dois chefões do cartel de Medellín, Jorge Ochoa (Alejandro Edda) e Pablo Escobar (Maurício Mejía). Muito pragmáticos, os dois oferecem ao piloto uma participação nos lucros para que se torne o transportador de sua cocaína à América. Verdadeiro crime perfeito, este transporte de drogas sob a proteção da CIA (sem que ela saiba) rende altíssimos lucros a Seal, o que permite comprar a adesão de sua mulher, Lucy (Sarah Wright), a esta radical mudança de vida. Até o irmão de Lucy, JB (Caleb Landry Jones),entra na jogada.
Há, é verdade, uma crítica mordaz à política norte-americana dos anos 1980, em que o presidente Ronald Reagan dava um apoio secreto e ilegal a gente duvidosa, como Noriega e os Contras nicaraguenses, em nome do anticomunismo, entregando-lhes não só dinheiro como armas e até drogas. Mas este aspecto se dilui em meio à assumida intenção de colocar em primeiro plano a versatilidade de Tom Cruise, dando-lhe um papel com mais componentes cômicos do que o habitual – com direito a duas mostradas de bunda no meio do caminho -, permitindo-lhe mergulhar num verdadeiro arsenal de referências visuais exageradas dos anos 1980. Por isso, o filme é mais aventura e comédia do que propriamente sátira política, apesar do evidente fundo de verdade e de uma série de mortes que se tornam inevitáveis pelo caminho.
Para que o espectador afaste o sorriso do rosto, porém, basta pensar no tipo de causas a que o governo norte-americano pode estar dando cobertura por baixo do pano neste exato instante. Começando pela América Latina.
De Neusa Barbosa do Cineweb
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