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Crítica | Pennywise é apenas mais uma das manifestações de uma força maligna

Por Redação |


O processo de amadurecimento de decantação da individualidade nos romances e contos de Stephen King sempre é doloroso, e, às vezes, assustador – na vida real também não costuma ser fácil, mas raramente chega a ser tão penoso quanto na obra do rei do terror. Basta ver Carrie, Danny (de O Iluminado), o protagonista de O Aprendiz, que trava amizade com um nazista, os garotos de Conta Comigo, ou os adolescentes de It: A Coisa, que ganha sua primeira adaptação cinematográfica pelas mãos do espanhol Andy Muschietti (Mama) – a versão dos anos de 1990 foi feita para a televisão, e lançada em VHS no Brasil, na época.

O local, poderia ser mais Vintage King, uma cidadezinha do Maine, nos anos de 1980, o que permite ao diretor – trabalhando com um roteiro assinado Chase Palmer, Cary Fukunaga e Gary Dauberman – se valer dessas peculiaridades, e fazer uma investigação da última década em que o mundo esteve dividido em dois blocos políticos. Talvez não por acaso, a trama se passa em 1989, ano da queda do Muro de Berlim, o que marca o fim de uma era. É um novo momento histórico de opções mais restritas, e é esse mundo que os adolescentes Bill (Jaeden Lieberher), Richie (Finn Wolfhard), Eddie (Jack Dylan Grazer) e Stanley (Wyatt Oleff) enfrentarão. Mais tarde se unem a eles a garota Beverly (Sophia Lillis), Ben (Jeremy Ray Taylor), que acaba de se mudar para a cidade, e Mike (Chosen Jacobs), que trabalha no abatedouro do avô, e teve uma experiência traumática quando perdeu os pais.

Conhecido como o Clube dos Perdedores, o grupo sofre bullying constante na escola, e nas férias de verão talvez as coisas ainda piorem. A cidadezinha enfrentam uma espécie de surto de desaparecimento infanto-juvenil. O irmão caçula de Bill, Georgie (Jackson Robert Scott), desapareceu deixando apenas um rastro de sangue numa rua encharcada de chuva diante de um bueiro. O acontecimento é mostrado no prólogo do filme – um ótimo exemplar de criação de tensão e medo, primeiro sugestivamente e com pistas falsas, até a concretização do horror na figura do palhação Pennywise (Bill Skarsgård), na já clássica imagem no vão do bueiro.

Pennywise é apenas mais uma das manifestações de uma força maligna capaz de materializar em si os maiores medos de suas vítimas. Transforma-lo, em boa parte da narrativa, num palhaço foi uma tremenda de uma sacada de King, uma vez que a figura traz em si uma dualidade que a torna complexa: há o aterrorizante (especialmente quando mostra seus dentes para dar o bote ou com seus jogos psicológicos) mas há também algo de lúdico ele precisa seduzir sua vítima, trazê-la para si. Muschietti e Skarsgård trabalham nessa dinâmica de algo repugnante mas que também cativa. É como se o medo viesse daquilo ou daquele em que você confia.

E isso é uma espécie de jogo de poder dos adultos sobre os adolescentes. Os pais, aqui, quando não são omissos, e, portanto, fora de cena, são abusivos física ou emocionalmente. Não é por acaso que esses adolescentes não querem crescer – Pennywise é o que melhor sintetiza isso: o adulto infantil numa crise de identidade. O problema, para os sete jovens protagonistas, é que o processo de amadurecimento é inevitável, e será a duas penas.

Com uma narrativa de mais de duas horas, Muschietti tem tempo suficiente para desenvolver seu grupo central, criando personagens densos, de forma a que seus medos,     quando vem à tona, não são gratuitos, nem uma mera desculpa para cenas de terror. Ajuda também muito o fato dos atores adolescentes serem talentosos e estarem bem dirigidos, fazendo parecer que realmente estão vivendo nos anos de 1980 (no romance original, essa parte da trama se passa no final dos anos de 1950).

Vinte e sete anos é uma data mítica em It: A Coisa:  é o intervalo de tempo em que a criatura aparece para aterrorizar e capturar crianças. Curiosamente, esse mesmo período separa a famosa adaptação televisiva e essa nova. Espera-se, no entanto, que o diretor não leve outros 27 anos para levar a continuação ao cinema.

Alysson Oliveira do Cineweb

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